Capítulo 9 — A igreja pode ajudá-lo?

O que fazer?

Como abolir a pobreza, a opressão e a tirania? Como eliminar o mal e a injustiça, extirpar a corrupção, pôr fim ao crime e ao assassinato?

Como acabar com a escravidão salarial?

Como assegurar liberdade e bem-estar, alegria e felicidade para todos?

“Volte-se para Deus”, ordena a igreja; “somente uma vida cristã pode salvar o mundo.”

“Vamos aprovar uma nova lei”, diz o reformista; “o homem deve ser forçado a ser bom.”

“Vote em mim!”, diz o político; “cuidarei de seus interesses.”

“O sindicato”, aconselha seu amigo trabalhador; “essa é sua esperança.”

“Só o socialismo pode abolir o capitalismo e acabar com a escravidão salarial”, insiste o socialista.

“Sou bolchevique”, anuncia outro; “somente a ditadura do proletariado libertará os trabalhadores.”

“Continuaremos escravos enquanto tivermos governantes e mestres”, diz o anarquista; “só a liberdade pode nos tornar livres.”

O protecionista e o livre-cambista, o defensor do imposto único e o fabiano, o tolstoiano e o mutualista, e dezenas de outros médicos sociais prescrevem cada um o seu remédio particular para curar os males da sociedade, e você se pergunta quem está certo e qual será a verdadeira solução.

Você não pode cometer erro maior do que aceitar cegamente este ou aquele conselho. Você certamente se equivocará.

Somente sua própria razão e experiência podem decidir qual é o caminho certo. Examine as várias propostas e determine, com seu próprio bom senso, qual é a mais razoável e prática. Só então saberá o que é melhor para si mesmo, para o trabalhador e para a humanidade.

Então vamos examinar os diferentes planos.

A igreja pode ajudá-lo?

Talvez você seja cristão ou membro de alguma outra religião — judeu, mórmon, muçulmano, budista, ou outro qualquer.

Isso não faz diferença. Um homem deve ser livre para acreditar no que quiser. A questão não é qual sua fé religiosa, mas se a religião pode abolir os males dos quais sofremos.

Como disse antes, temos apenas uma vida para viver nesta terra, e queremos aproveitá-la da melhor maneira possível. O que acontecerá conosco depois de mortos nós não sabemos. As chances são de que nunca saberemos, então não adianta se preocupar com isso.

A questão aqui é a vida, não a morte. É dos vivos que nos ocupamos; de você, de mim e de outros como nós. Pode o mundo ser um lugar melhor para vivermos? É isso que queremos saber. A religião pode fazê-lo?

O cristianismo tem cerca de 2.000 anos. Ele aboliu algum mal? Acabou com o crime e o assassinato, nos livrou da pobreza e da miséria, do despotismo e da tirania?

Você sabe que não. Você sabe que a Igreja Cristã, como todas as outras igrejas, sempre esteve do lado dos patrões, contra o povo. Mais ainda: a igreja causou mais conflitos e derramamento de sangue do que todas as guerras de reis e imperadores. A religião dividiu a humanidade em crenças opostas, e as guerras mais sangrentas foram travadas por causa das diferenças religiosas. A igreja perseguiu pessoas por suas opiniões, aprisionou-as e matou-as. A Inquisição Católica aterrorizou o mundo inteiro, torturou os chamados hereges e os queimou vivos. Outras igrejas fizeram o mesmo quando tiveram poder. Sempre buscaram escravizar e explorar o povo, mantê-lo na ignorância e na escuridão. Condenaram todo esforço humano para desenvolver sua mente, para avançar, para melhorar sua condição. Condenaram a ciência e silenciaram os homens sedentos de conhecimento. Até hoje a religião institucionalizada é o Judas do seu suposto Salvador. Aprova o assassinato e a guerra, a escravidão salarial e o roubo capitalista, e sempre defende a “lei e a ordem” que crucificaram o Nazareno.

Considere: Jesus queria que todos os homens fossem irmãos, vivessem em paz e boa vontade. A igreja sustenta a desigualdade, a luta nacional e a guerra.

Jesus condenou os ricos como víboras e opressores dos pobres. A igreja reverencia os ricos e acumula imensas riquezas.

O Nazareno nasceu numa manjedoura e permaneceu pobre toda sua vida. Seus supostos representantes e porta-vozes na terra vivem em palácios.

Jesus pregou a humildade. Os Príncipes da Igreja são arrogantes e orgulhosos de suas posses.

“O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes”, disse Cristo. A igreja apoia o sistema capitalista que escraviza crianças e as leva a uma morte precoce.

“Não matarás”, ordenou o Nazareno. A igreja aprova execuções e guerras.

O cristianismo é a maior hipocrisia registrada na história. Nem as nações cristãs nem os indivíduos praticam os preceitos de Jesus. Os primeiros cristãos o fizeram — e foram crucificados, queimados na fogueira ou lançados às feras na arena romana. Depois, a Igreja Cristã se comprometeu com os poderosos; ganhou dinheiro e influência tomando o lado dos tiranos contra o povo. Sancionou tudo o que Cristo condenou, e assim conquistou o favor e o apoio de reis e patrões. Hoje, rei, patrão e sacerdote formam uma só trindade. Crucificam Jesus diariamente; glorificam-no com palavras e traem-no por trinta moedas de prata; louvam seu nome e matam seu espírito.

É evidente que o cristianismo é o maior embuste e vergonha da humanidade, e um fracasso completo porque o apelo cristão é uma mentira. As igrejas não praticam o que pregam. Além disso, pregam um evangelho que sabem que você não pode seguir; conclamam você a ser um “homem melhor” sem lhe dar uma chance para isso. Pelo contrário, sustentam as condições que o tornam “mau”, enquanto lhe ordenam que seja “bom”. Beneficiam-se materialmente do regime existente e têm interesse financeiro em mantê-lo. A Igreja Católica, a Protestante, a Anglicana, a Ciência Cristã, os Mórmons e outras denominações estão entre as organizações mais ricas do mundo hoje. Suas posses representam o sangue e a carne dos trabalhadores. Sua influência é prova de como o povo é iludido. Os profetas da religião estão mortos e esquecidos; restam apenas os lucros.

“Mas se levássemos uma vida verdadeiramente cristã”, você observa, “o mundo seria diferente.”

Você está certo, meu amigo. Mas você pode viver uma vida cristã nas condições atuais? O capitalismo permite que você leve tal vida? O governo o permitirá? A própria igreja lhe dará uma oportunidade de viver uma vida cristã?

Tente, apenas por um único dia, e veja o que acontece.

Ao sair de casa pela manhã, decida ser cristão naquele dia e falar apenas a verdade. Ao passar pelo policial na esquina, lembre-o de Cristo e Seus mandamentos. Diga-lhe para “amar seu inimigo como a si mesmo” e convença-o a jogar fora seu cassetete e sua arma.

E quando encontrar o soldado na rua, explique-lhe que Jesus disse: “Não matarás.”

No seu trabalho ou escritório, fale toda a verdade ao seu patrão. Lembre-o do alerta do Nazareno: “De que adianta ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” Mencione que Ele ordenou que partilhássemos nosso último pão com os pobres; que disse que o rico tem menos chance de entrar no céu do que um camelo de passar pelo buraco de uma agulha.

E quando for levado ao tribunal por perturbar a paz dos bons cristãos, lembre ao juiz: “Não julgueis para que não sejais julgados.”

Você será declarado louco ou insano, e enviado para um hospício ou para a prisão.

Você pode ver, então, quanta hipocrisia existe nos pregadores do céu que lhe falam da vida cristã. Eles sabem tão bem quanto você que, sob o capitalismo e o governo, não há mais chance de levar uma vida cristã do que para um camelo atravessar o buraco de uma agulha. Todos esses bons cristãos que fingem ser o que não são são apenas hipócritas que pregam o que não pode ser praticado, pois não lhe dão nenhuma oportunidade de levar uma vida cristã. Não, nem sequer uma vida minimamente decente e honesta, sem fingimento e mentira.

É verdade que se pudéssemos seguir os preceitos do Nazareno, este seria um mundo muito diferente para viver. Não haveria assassinato nem guerra; nem engano, nem mentira, nem busca de lucro. Não haveria escravos nem mestres, e viveríamos todos como irmãos, em paz e harmonia. Não haveria pobres nem ricos, nem crime nem prisões — mas isso não é o que a igreja quer. É o que os anarquistas querem, e isso discutiremos mais adiante.

Portanto, meu amigo, você nada tem a esperar da Igreja Cristã ou de qualquer outra igreja. Todo progresso e melhoria no mundo foram realizados contra a vontade e os desejos da igreja. Você pode acreditar na religião que quiser, mas não deposite nenhuma esperança de melhoria social na igreja.

Agora vamos ver se o reformador ou o político podem nos ajudar.

Navegação

<< Capítulo 8 — JustiçaCapítulo 10 — O reformador e o político >>