Introdução

Quero falar com você sobre o anarquismo.

Quero explicar o que é o anarquismo, porque acredito que é importante que você o conheça. Também porque tão pouco se sabe sobre ele, e o que se sabe, em geral, é baseado em boatos e, na maioria das vezes, é falso.

Quero falar sobre o anarquismo porque acredito que ele é a ideia mais grandiosa e nobre que o ser humano já concebeu; a única que pode oferecer liberdade e bem-estar, trazendo paz e alegria ao mundo.

Quero explicá-lo em uma linguagem tão simples e clara que não haja possibilidade de mal-entendidos. Palavras difíceis e frases pomposas apenas confundem. Pensar com clareza exige falar com simplicidade.

Mas, antes de dizer o que o anarquismo é, quero primeiro dizer o que ele não é.

Isso é necessário porque muita falsidade foi espalhada sobre o anarquismo. Mesmo pessoas inteligentes frequentemente têm ideias totalmente erradas a seu respeito. Algumas falam de anarquismo sem saber absolutamente nada sobre ele. Outras mentem deliberadamente, porque não querem que você conheça a verdade.

O anarquismo tem muitos inimigos; e eles não lhe contarão a verdade sobre ele. Por que o anarquismo tem inimigos e quem são eles, você verá mais adiante, ao longo desta obra. Por agora, basta saber que nem seu chefe político nem seu patrão, nem o capitalista nem o policial falarão honestamente com você sobre o anarquismo. A maioria deles nada sabe sobre ele, e todos o odeiam. Seus jornais e publicações — a imprensa capitalista — também se opõem a ele.

Até mesmo a maioria dos socialistas e bolcheviques deturpa o anarquismo. É verdade que a maioria o faz por ignorância. Mas aqueles que sabem a verdade também frequentemente mentem sobre o anarquismo, descrevendo-o como “desordem e caos”. Você mesmo pode ver como são desonestos: os maiores mestres do socialismo — Karl Marx e Friedrich Engels — ensinaram que o anarquismo surgiria do socialismo. Eles afirmaram que primeiro deveríamos ter o socialismo, mas que, depois dele, viria o anarquismo, e que seria uma condição social mais livre e mais bela do que o próprio socialismo. No entanto, os socialistas que juram fidelidade a Marx e Engels insistem em chamar o anarquismo de “caos e desordem”, o que demonstra sua ignorância ou sua desonestidade.

Os bolcheviques fazem o mesmo, embora seu maior líder, Lenin, também tenha dito que o anarquismo sucederia o bolchevismo, e que então a vida seria melhor e mais livre.

Portanto, preciso dizer primeiro o que o anarquismo não é.

  • Ele não é bombas, desordem ou caos.
  • Ele não é roubo nem assassinato.
  • Ele não é a guerra de todos contra todos.
  • Ele não é um retorno à barbárie ou ao estado selvagem do ser humano.

O anarquismo é exatamente o oposto de tudo isso.

O anarquismo significa que você deve ser livre; que ninguém deve escravizá-lo, mandá-lo, roubá-lo ou explorá-lo.

Significa que você deve ser livre para fazer o que deseja fazer; e que não deve ser forçado a fazer o que não quer fazer.

Significa que você deve ter a oportunidade de escolher o tipo de vida que deseja viver, e vivê-la sem a interferência de ninguém.

Significa que seu próximo deve ter a mesma liberdade que você, que todos devem ter os mesmos direitos e liberdades.

Significa que todos os seres humanos são irmãos, e que devem viver como irmãos, em paz e harmonia.

Ou seja, não deve haver guerras, nem violência de uns contra os outros, nem monopólios, nem pobreza, nem opressão, nem exploração do próximo.

Em resumo, o anarquismo significa uma condição ou sociedade em que todos os homens e mulheres sejam livres e desfrutem igualmente dos benefícios de uma vida ordenada e sensata.

“Isso é possível?”, você pergunta; “e como?”

“Não antes de todos nos tornarmos anjos”, comenta seu amigo.

Pois bem, vamos conversar sobre isso. Talvez eu consiga lhe mostrar que podemos ser pessoas decentes e viver como tal, mesmo sem precisar de asas.

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